quinta-feira, 20 de outubro de 2011

desculpa por ter sido uma vaca com você, porque eu realmente fui, quando eu não retribui toda felicidade que tu tava jogando em punhados aos meus pés

domingo, 8 de maio de 2011

elogio ao amor puro!

O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixonade verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão alimesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia aspessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passívelde ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios.Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia serdesmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amorcego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há,estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, sãouma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nascostas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida,o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea porsopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amorfechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor éamor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como nãopode. Tanto faz. É uma questão de azar.

O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio,não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não sepercebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor éa nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.

O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe.Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amorque se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado,viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se podeceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

TPL

são indivíduos que afastam aqueles de quem mais precisam. paradoxalmente, ao tempo que precisam do afeto e da companhia dessas pessoas, são capazes de afastá-las de forma cruel e, muitas vezes, assustadora.
sentem que estão sempre com um grande sentimento crônico de vazio. tal sentimento constantemente os incomoda e tendem a achar sempre uma forma de preenchê-lo, mas descrevem que esse sentimento nunca desaparece.

suas vidas são sofríveis e um verdadeiro inferno.


"Podem te arrancar um braço, uma perna, tudo bem, você continua vivendo.
Mas a alma?
Sem ela, você é apenas uma caixa de ossos chacoalhando por aí."

terça-feira, 20 de julho de 2010

Ah, fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, noites afora, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia, não consegurás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dele, em algum cheiro estranho o cheiro preciso dele(...)

caio fernando abreu

terça-feira, 13 de julho de 2010

chorei por três horas, depois dormi dois dias. parece incrível ainda estar vivo quando já não se acredita em mais nada. olhar, quando já não se acredita no que se vê. e não sentir dor nem medo, porque atingiram seu limite. e não ter nada além deste amplo vazio que poderei preencher como quiser ou deixá-lo assim, sozinho em si mesmo, completo, total. até a próxima morte, que qualquer nascimento pressagia.

caio fernando de abreu

domingo, 30 de maio de 2010

não sei se a vida é maior que a morte,

mas o amor era maior que ambas.

meu rosto em teus olhos e seu rosto nos meus olhos aparece e dois corações verdadeiros em nossos rostos descansam, onde podemos encontrar dois hemisférios melhores sem a dureza do Norte e a decadência do Oeste?
tudo o que morre é porque não foi combinado igualmente, se nossos dois amores se tornarem um só e nós nos amarmos da mesma forma ninguém poderá diminuí-lo, ninguém poderá matá-lo.

[ do filme Tristão e Isolda ]

domingo, 23 de maio de 2010

você é completamente pirado

mas, vou te contar um segredo. as melhores pessoas são assim...


Sentada, com os olhos fechados, quase acreditou estar ela mesma no País das Maravilhas, mesmo sabendo que quando abrisse os olhos novamente tudo voltaria a ser a chata realidade de sempre...a grama se mexeria apenas com o vento e a lagoa estaria se movimentando apenas com os juncos...o tilintar da xícaras novamente seria o badalar dos sinos pendurados nos pescoços dos carneiros...os gritos agudos da Rainha seriam apenas os berros do pastor...o espirro do bebê, o guincho do grifo, e todas as outras coisas esquisitas iriam transformar-se (ela sabia) no confuso clamor da vida no campo...assim como o mugir do gado à distância iria tomar lugar dos pesados soluços da Falsa Tartaruga.